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A wonderful day

A wonderful day

03
Dez24

Aurora

A mãe de Dalva tinha nome de amanhecer: Aurora. O nome que ela ganhou ao nascer, foi sendo conquistado ao longo da vida. Aurora iluminava as pessoas, as coisas, as tarefas mais banais. Via graça em tudo o que fazia, ao contrário de só querer fazer o que via graça. Enchia a boca para dizer: É para varrer? Vamos varrer, se você dança com a vassoura, ela dança com você. Se é para lavar, lave, que a alma sai limpa do esforço. Sofrer com miudeza é querer ser infeliz, ignore o cisco. Se o corpo cansa, dê a ele um tempo, quase tudo pode esperar. Nunca lamentava, dava um jeito de trazer a alegria para perto. E como o rio corre para o mar, a alegria sempre dava um jeito de amanhecer com Aurora.

em "Tudo é Rio" de Carla Madeira, pág. 73

Advento #1

01
Dez24

Advento

Não sou uma pessoa muito religiosa, mas gosto do Natal e desta época do ano. Ao longo da vida, o mês de dezembro tem tido significados distintos e quando existem crianças na família, a época natalícia ganha outra dimensão. 

Quando a minha filha era pequena comecei a fazer um calendário de Advento diferente, todos os anos. Nalguns anos não consegui fazer o calendário e recorri a calendários comprados. Não era a mesma coisa, quer para ela, quer para mim. Faltava o meu tempo e dedicação ao calendário e para ela faltava  a surpresa do que poderia estar no saquinho ou na caixinha daquele dia.

A minha filha já está crescida e no ano passado, mesmo a estudar fora de casa, quis um calendário de Advento. Fiquei com um dilema sobre que tipo de calendário é que poderia preparar para uma jovem estudante. Consegui fazer o calendário, diverti-me muito a preparar o mesmo e acho que foi uma boa surpresa. Nessa altura, lembrei-me de fazer uma espécie de calendário com excertos de livros que li e gostei, mas já não tinha muito tempo para preparar o calendário para o Natal de 2023.

Este ano decidi avançar com esta ideia e comecei um pouco mais cedo. Não tenho textos para os dias todos até à véspera de Natal, mas tenho alguns e vou partilhar  aqueles que juntei ao longo das últimas semanas. Este será o meu calendário do Advento deste ano: textos sobre o Natal, sobre a família, sobre aqueles que já partiram e que nesta época estão ainda mais presentes no pensamento e na saudade.

Que o mês de Dezembro seja um mês de partilha, amizade, em que possa estar presente e ser presente. Esta é a minha partilha para este mês.

 

 

24
Out24

Mas e o amor?

Venâncio e Dalva casaram apaixonados. Perdidamente. Quem via os dois pedia a Deus uma sorte igual. O amor tem nome, mas não é nada que possamos reconhecer só de olhar. A dor nós sabemos o que é, tem lugar e intensidades que cabem na ciência. A raiva, o medo, o ódio entortam a cara com um jeito provável de se manifestar. Mas e o amor? O que é senão um monte de gostar? Gostar de falar, gostar de tocar, gostar de cheirar, gostar de ouvir, gostar de olhar. Gostar de se abandonar no outro. O amor não passa de um gostar de muitos verbos ao mesmo tempo. No caso de Venâncio e Dalva, o gosto de cada sentido unia os dois para mais de muitas vidas, pareciam eternos de tão juntos. Um saboreava o outro.

em "Tudo é Rio" de Carla Madeira, pág. 23

22
Out24

Tudo é Rio

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(imagem retirada daqui )

A escritora Carla Madeira é muito falada na Comunidade de Leitura e muitos dos elementos já leram os diferentes livros desta escritora e gostam imenso da sua escrita.

Comecei esta leitura com algum receio, sem saber se iria gostar da história. A sinopse do livro desvenda pouco sobre o enredo e este foi muito, mesmo muito diferente daquilo que tinha imaginado.

Dalva e Venâncio são um casal apaixonado, mas assombrado e destruído pelos ciúmes de Venâncio.

Lucy é uma prostituta que tem todos os homens que deseja. Apenas Venâncio resiste a Lucy, para desespero desta.

Dalva, Venâncio e Lucy um trio amoroso incomum, cujas vidas descobrimos através das palavras de Carla Madeira. Uma escrita crua, mas ao mesmo tempo poética que conduz o leitor através de uma história de sofrimento, de amor e com páginas seguidas de uma ternura imensa.

Aurora, a mãe de Dalva, é uma personagem inesquecível que cuida diariamente da família com muita sabedoria e simultaneamente aconchega o leitor.

Nas primeiras semanas, Dalva não comia, não bebia, não acendia a luz, morria um pouco a cada dia. Levantou-se depois de uma longa visita de luto da mãe, saiu de casa sem deixar pistas e, para desespero de Venâncio, só voltou ao entardecer do dia seguinte. Desse dia em diante, passou a sair todas as manhãs. Caminhava lenta, magra, ombros fechados de quem desistiu. Ninguém sabia ao certo aonde ia. Na hora mais triste das tardes, quando a saudade parece apertar o coração do mundo, Dalva voltava a casa.

(pág. 29)

Este é um livro para ler devagar, repleto de excertos que obrigam a parar, refletir, enquanto descobrimos uma história de amor improvável.

Recomendo muito esta leitura!

Boas leituras!

26
Set24

Os Loucos da Rua Mazur

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(imagem retirada daqui

Foi a primeira vez que li um livro de João Pinto Coelho. Este livro ganhou o prémio LeYa 2017, mas sabia pouco sobre o mesmo. No entanto, tinha alguma expectativa sobre a história face ao conteúdo da sinopse e a opinião do blog Livros e Saltos, a qual prezo muito.

Ao longo do livro é possível acompanhar a história de Yankel - livreiro, judeu e cego desde nascença; de Eryk - escritor famoso e cristão; e de Shionka - filha da bruxa local. A história começa em Paris, em 2001, quando Yankel e Eryk se reencontram, após terem fugido da povoação polaca onde viviam.

Após o reencontro começa uma viagem ao passado que nos transporta para uma localidade polaca - o círculo perfeito - dividida entre a comunidade católica e a comunidade judaica. Durante a II Guerra Mundial a povoação é ocupada pelos russos e posteriormente pelos nazis.

A história é baseada em factos verdadeiros ocorridos na Polónia durante a Guerra. Um livro que nos faz refletir sobre as atrocidades cometidas durante as guerras e que continuam a ocorrer todos os dias. Um livro que nos questiona sobre o que faríamos se fosse connosco.

A leitura começou de forma lenta, mas sempre com vontade de saber mais. É uma leitura em crescendo, com um final que me deixou sem palavras. É muito difícil ficar indiferente a esta história.

Uma palavra para o título do livro: é um dos títulos mais adequados que li nos últimos tempos. No fim fiquei a pensar quem seriam os verdadeiros loucos.

Aí levantou-se a ventania - tão demente que varreu tudo à sua passagem: a chuva, as ruínas calcinadas do hospício, os cães. Sozinho no meio da rua, àquela hora esquecida, o padre vestido, com a barba a drapejar, procurava a quem rezar.

(pág. 287)

Li este livro em janeiro de 2023 e na altura partilhei a sua leitura na minha página no Instagram, mas não coloquei o texto no blog.

Nesta sexta-feira, dia 20, tive oportunidade de ouvir o escritor João Pinto Coelho na biblioteca. Se já tinha gostado muito do livro “Os Loucos da Rua Mazur” depois desta conversa, a história ganhou uma nova perspetiva e tinha mesmo de partilhar este livro no blog.

Agora espero conseguir ler em breve o livro “Perguntem a Sarah Gross”.

Recomendo muito a leitura deste livro.

Boas leituras!

22
Set24

As Mulheres

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(imagem retirada daqui)

Califórnia, 1966 - Frankie é uma jovem proveniente de uma família abastada, a terminar a licenciatura em enfermagem, cujo destino está pré-definido: casar e constituir família. No entanto, Frankie quer seguir os passos do seu irmão Finley, o qual foi destacado para a guerra do Vietname. “As mulheres também podem ser heroínas” e Frankie decide contrariar o seu destino. Alista-se no exército, como enfermeira, e parte para o Vietname.

Este é o início de uma história em que é possível acompanhar a vida de Frankie e das suas amigas enfermeiras Ethel e Barb na guerra, bem como o seu regresso a um país, em que os veteranos são apelidados de assassinos, quando terminam das suas comissões de serviço.

Um romance intenso sobre o papel não reconhecido das mulheres nesta guerra, mas também sobre o que é estar num hospital de evacuação em que os feridos sucedem-
-se uns aos outros e em determinadas alturas só resta apertar a mão a um jovem soldado. Como sobreviver a mais um turno, como sobreviver a uma comissão de serviço, como regressar à vida normal, depois de ter presenciado o inimaginável?

Gostei da história de Frankie, mas o que gostei mais foi do enquadramento histórico da mesma. Este é também um livro sobre um país dividido por uma guerra, que deixou feridas difíceis de sarar e afetou toda uma geração, de formas muito diferentes e que tornou a leitura mais interessante.

Guerra era uma coisa; outra bem diferente era bombardear aldeias cheias de mulheres e crianças. Deus sabia que não havia artigos sobre isso no Stars and Stripes. Porque é que não relatavam a verdade?

Surgiu um silêncio entre elas; nele, estava contida a verdade horrível que nenhuma delas queria enfrentar. A aldeia ficava no Vietname do Sul. E só os americanos tinham bombas.

(pág. 111)

Esta foi uma leitura difícil de interromper e recomendo a leitura deste livro.

Boas leituras!

PS. Obrigada equipa do Sapo pelos destaques desta semana. Foi uma boa surpresa e fiquei muito contente.

20
Set24

Um animal selvagem

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(imagem retirada daqui)

Neste momento, só começo a ler livros de alguns autores se tiver a certeza que posso ler sem restrições de horários e agenda. Joël Dicker é um desses autores e o novo livro “Um animal selvagem” não dá tréguas na leitura.

Um assalto a uma ourivesaria em Genebra, uma família aparentemente perfeita, mas as aparências enganam e página após página, o mistério adensa-se até ao dia do assalto.

O livro está escrito por partes, associadas a determinados eventos, e por dias até ao dia do desfecho. Em determinadas partes a história recua vários anos, de forma a enquadrar…ou aumentar as dúvidas sobre o momento atual.

Joël Dicker é um verdadeiro mestre do suspense e o livro não desiludiu.

Confesso que este não é o meu livro preferido do escritor, mas gostei muito, mesmo muito desta leitura.

Mas os animais selvagens são como os homens. Podemos amansá-los, restringi-los, fazer com que pareçam outra coisa. Podemos enchê-los de amor e esperança. Mas não podemos mudar a sua natureza.

(pág. 398)

Boas leituras!

18
Set24

Amor Estragado

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(imagem retirada daqui)

Uma família, como tantas outras, com quatro filhos rapazes. Manel é o filho mais velho e para si a família é o pilar fundamental da sua vida. No entanto, cada irmão segue o seu caminho e a vida de Manel não corresponde ao que sonhou.

Manel, desiludido, casa com uma mulher sem graça, que o envergonha perante a família. Dominado pelo álcool, incapaz de controlar as suas frustrações, sente-se uma vítima, enquanto a sua família o afasta cada vez mais. Já o seu irmão Zé tem a vida que Manel gostaria: casado com uma mulher bonita, com três filhos, em que aparentemente o dia-a-dia corre de feição. Zé assiste à degradação de Manel e à escalada de violência sobre a cunhada. Perdido nos seus fantasmas, não sabe como intervir e os laços familiares condicionam as suas ações.

Este foi um livro que tive de ler devagar e ao qual é impossível ficar indiferente. Um livro com uma linguagem direta, crua, intenso nas descrições e que não deixa nada por dizer. Um livro impactante sobre um tema, infelizmente muito atual, em que o número de vítimas de violência doméstica continua a aumentar todos os anos.

Eu nunca tolerara que um homem batesse numa mulher, e ele teve rédea solta por ser meu irmão. Pegou nos meus filhos ao colo, ensinou-os a andar de bicicleta, e tão só isso me impediu de querer atirá-lo para uma cela. Sei que íamos mentir em tribunal, dizer que a minha cunhada era louca. Ele tinha as mãos sujas do sangue dela, mas eu não podia sujar as minhas com a cadeia de um irmão. Que diriam os meus filhos se lhes mandasse o tio para a prisão?

(pág. 152).

Recomendo muito, mesmo muito a leitura deste livro.

Boas leituras!

18
Ago24

Três hipóteses

- Temos três hipóteses possíveis – explica-me o Max, quando percebe que eu continuo com muitas dúvidas em relação ao plano. – A primeira é aceitar esta nova ordem e viver resignadamente num país totalitário, mas em profunda regeneração ambiental, na esperança de que, dentro de pouco tempo seja permitido formar novos partidos políticos e disputar eleições livres. A História mostra-nos que tal nunca acontece. O mais provável é que as Brigadas ganhem as eleições, vendo-se mais legitimadas pelo voto popular. A segunda hipótese é fugir daqui sem salvar mais ninguém, vivendo com o peso na consciência de não ter feito nada, cúmplices com o nosso silêncio. A terceira é fugir daqui, mas levando connosco a Laura, que será a prova de que este é um regime repressivo, que diariamente atropela os direitos dos seus cidadãos.

em “Admirável Mundo Verde” de Filipa Fonseca Silva, pág. 144

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Leituras

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Um animal selvagem
Um Quarto Só Seu
As Mulheres
O Último Comboio para Key West
Amor Estragado
O Mergulho
O Tesouro
O Meu Nome é Lucy Barton
O Som em Mim
O Peso do Pássaro Morto
O Meu Pai Voava
Um dia na vida de Abed Salama: Anatomia de uma tragédia em Jerusalém
Augusta B. ou as Jovens Instruídas 80 Anos Depois
Memórias de uma falsificadora : a luta na clandestinidade pela liberdade em Portugal
Uma Espia Americana em Lisboa
Admirável Mundo Verde
A Minha Família e Outros Animais
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Cadernos da Água


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