(imagem retirada daqui)
Escrever ajuda-me a passar o tempo. Foi um dos amigos da Mariana que me deu uma caneta. Não sei onde a arranjou, não fala português nem nenhuma língua que eu entenda. Não sei como a Mariana se entende com os novos amigos, todos eles estrangeiros, poucos falam algum inglês e nenhum fala português.
(pág. 10)
Na Europa e no resto do mundo existe uma nova organização geopolítica. Uma seca extrema assola o sul da Europa. Sucederam-se as Guerras Meridionais da Água, novas pandemias na Europa, no Médio Oriente, no Norte de África. Os países do Norte fecharam as fronteiras e cancelaram o apoio financeiro, conhecido como a “taxa de deserto”, aos países do Sul. O mundo está em transformação e o Sul da Europa transformou-se num deserto.
Sara e Mariana, mãe e filha, são refugiadas climáticas na Suécia. Sara regista o dia-a-dia num caderno, numa espécie de correspondência para o seu marido Emanuel, enquanto aguardam pelo reencontro da família. Este ficou para trás, algures na Península Ibérica sequestrado por um grupo de paramilitares. O seu país de origem, Portugal, já não existe.
Este é livro muito interessante sobre um futuro distópico, em que os antecedentes narrados ao longo da história e que conduzem ao momento em que lemos o caderno de Sara, têm muitas semelhanças com o presente. Um exemplo é a invasão da Ucrânia pela Rússia, referenciada no livro como tendo ocorrido em 2026, e que se concretizou alguns dias antes da publicação do livro, em março de 2022.
A água, enquanto recurso fundamental, e a sua gestão é um tema pelo qual tenho muito interesse e preocupação. O futuro poderá não ser assim tão diferente do descrito neste livro. As alterações climáticas e a escassez da água são temas que na minha opinião, enquanto país, não estamos preparados para enfrentar, nem vamos estar a curto e a médio prazo. Isto preocupa-me e muito, quando penso no futuro próximo e das próximas gerações.
Um livro marcante, com diferentes camadas, em que diferentes leitores poderão valorizar mais um tema do que outro, mas para mim é um alerta importante para o futuro.
O Ministro dos Recursos Hídricos admitira que a sua pasta já pouco sentido fazia, pois na verdade já quase não havia recursos hídricos. Com as reservas no mínimo absoluto ou totalmente esgotadas, apenas pequenas bolsas no noroeste do país tinham ainda água suficiente para cobrir o consumo humano e algum consumo agrícola.
(pág. 230)
Recomendo muito, mesmo muito a leitura deste livro!
Boas leituras!