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A wonderful day

A wonderful day

20
Set24

Um animal selvagem

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(imagem retirada daqui)

Neste momento, só começo a ler livros de alguns autores se tiver a certeza que posso ler sem restrições de horários e agenda. Joël Dicker é um desses autores e o novo livro “Um animal selvagem” não dá tréguas na leitura.

Um assalto a uma ourivesaria em Genebra, uma família aparentemente perfeita, mas as aparências enganam e página após página, o mistério adensa-se até ao dia do assalto.

O livro está escrito por partes, associadas a determinados eventos, e por dias até ao dia do desfecho. Em determinadas partes a história recua vários anos, de forma a enquadrar…ou aumentar as dúvidas sobre o momento atual.

Joël Dicker é um verdadeiro mestre do suspense e o livro não desiludiu.

Confesso que este não é o meu livro preferido do escritor, mas gostei muito, mesmo muito desta leitura.

Mas os animais selvagens são como os homens. Podemos amansá-los, restringi-los, fazer com que pareçam outra coisa. Podemos enchê-los de amor e esperança. Mas não podemos mudar a sua natureza.

(pág. 398)

Boas leituras!

18
Set24

Amor Estragado

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(imagem retirada daqui)

Uma família, como tantas outras, com quatro filhos rapazes. Manel é o filho mais velho e para si a família é o pilar fundamental da sua vida. No entanto, cada irmão segue o seu caminho e a vida de Manel não corresponde ao que sonhou.

Manel, desiludido, casa com uma mulher sem graça, que o envergonha perante a família. Dominado pelo álcool, incapaz de controlar as suas frustrações, sente-se uma vítima, enquanto a sua família o afasta cada vez mais. Já o seu irmão Zé tem a vida que Manel gostaria: casado com uma mulher bonita, com três filhos, em que aparentemente o dia-a-dia corre de feição. Zé assiste à degradação de Manel e à escalada de violência sobre a cunhada. Perdido nos seus fantasmas, não sabe como intervir e os laços familiares condicionam as suas ações.

Este foi um livro que tive de ler devagar e ao qual é impossível ficar indiferente. Um livro com uma linguagem direta, crua, intenso nas descrições e que não deixa nada por dizer. Um livro impactante sobre um tema, infelizmente muito atual, em que o número de vítimas de violência doméstica continua a aumentar todos os anos.

Eu nunca tolerara que um homem batesse numa mulher, e ele teve rédea solta por ser meu irmão. Pegou nos meus filhos ao colo, ensinou-os a andar de bicicleta, e tão só isso me impediu de querer atirá-lo para uma cela. Sei que íamos mentir em tribunal, dizer que a minha cunhada era louca. Ele tinha as mãos sujas do sangue dela, mas eu não podia sujar as minhas com a cadeia de um irmão. Que diriam os meus filhos se lhes mandasse o tio para a prisão?

(pág. 152).

Recomendo muito, mesmo muito a leitura deste livro.

Boas leituras!

01
Set24

Uma mesa e duas cadeiras

A minha primeira casa, enquanto jovem adulta, tinha uma varanda estreita e comprida. Nessa altura, sentia falta de um espaço ao ar livre onde ler um livro ao final do dia ou de beber um café ao sábado de manhã. Comprámos uma pequena mesa e duas cadeiras. Era o suficiente para nós, enquanto casal, e aproveitámos bem aquela varanda.

Mudámos para uma casa maior, mas a varanda ainda era mais pequena. A mesa e as cadeiras foram oferecidas. Não nos parecia que fosse possível ter esse mobiliário num espaço tão pequeno.

A família cresceu, a vida aconteceu e voltei a sentir falta de um sítio para estar ao final da tarde. Olhámos para a varanda de outra forma e conseguimos colocar uma estante com plantas, uma mesa e uns bancos. Fizemos muitas refeições nesse espaço e aquela pequena varanda tornou-se um prolongamento da casa e da nossa vida familiar.

Nova casa e desta vez com um bom espaço exterior com mesas, cadeiras, plantas e onde gostamos de estar. Nova varanda comprida e estreita, mas que parecia incompleta, abandonada. Sentia falta de algo.

Nova aquisição: uma mesa e duas cadeiras. Foi quase como voltar ao início da nossa vida conjunta. Agora ao final do dia, e enquanto os dias são grandes, aproveitamos para conversar, partilhar o dia, descontrair e este verão em que ainda não tivemos férias ganhou outro sabor.

(escrito a 16/08/2024)

18
Ago24

Três hipóteses

- Temos três hipóteses possíveis – explica-me o Max, quando percebe que eu continuo com muitas dúvidas em relação ao plano. – A primeira é aceitar esta nova ordem e viver resignadamente num país totalitário, mas em profunda regeneração ambiental, na esperança de que, dentro de pouco tempo seja permitido formar novos partidos políticos e disputar eleições livres. A História mostra-nos que tal nunca acontece. O mais provável é que as Brigadas ganhem as eleições, vendo-se mais legitimadas pelo voto popular. A segunda hipótese é fugir daqui sem salvar mais ninguém, vivendo com o peso na consciência de não ter feito nada, cúmplices com o nosso silêncio. A terceira é fugir daqui, mas levando connosco a Laura, que será a prova de que este é um regime repressivo, que diariamente atropela os direitos dos seus cidadãos.

em “Admirável Mundo Verde” de Filipa Fonseca Silva, pág. 144

16
Ago24

Admirável Mundo Verde

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(imagem retirada daqui)

Três jovens universitários. Uma causa comum: sensibilizar e contribuir para um planeta mais sustentável. Laura, Billie e Max são mais do que família uns dos outros, estão interligados de forma muito profunda. No entanto, um deles radicaliza-se em prol de um mundo mais verde. Esta radicalização terá impactos significativos nas suas vidas.

Em nome de uma mudança que permita a adoção de medidas ambientais efetivas, inicia-se uma revolução armada que termina na implementação de um estado totalitário e com milhares de mortos. O país é dominado pelas Brigadas Verdes e tudo é controlado, desde o papel, à utilização da eletricidade até ao número de filhos. Qual o destino de Laura, Billie e Max durante e após a revolução?

As questões ambientais interessam-me muito (defeito profissional) e quando vi este livro pela primeira vez, percebi logo que o iria ler, assim que possível.

“Admirável Mundo Verde” levanta inúmeras questões. Será uma distopia? Poderá acontecer em breve? Valerá tudo em nome de um mundo mais sustentável, incluindo atos de violência e controlo total da população?

Este livro é um alerta sobre a emergência climática, sobre a necessidade de mudança, mas também sobre os elevados riscos associados aos estados totalitários. No entanto, onde existem guerras e ditaduras, existe sempre quem resista, quem procure um caminho alternativo e este é também um livro sobre a resistência e o poder da amizade.

Foi uma leitura que prendeu a minha atenção desde início, sendo que a história nos envolve e lê-se rapidamente. A curiosidade sobre o desfecho era enorme e gostei imenso do final.

Decidira que chegava de desculpas e adiamentos, acordos e conferências onde os intervenientes falavam e falavam, mas não levavam a cabo as mudanças concretas e necessárias para a salvação de milhões de vidas. Chegava de petições, marchas, invasões de conselhos de ministros, vandalização de obras de arte, greves de fome e cadeados em fábricas. Decidira ficar com o grupo contra a hipocrisia de quem se dizia preocupado com o assunto, mas não se desviava um milímetro de um estilo de vida consumista e suicida, mesmo perante as notícias diárias de secas históricas, furacões descontrolados e incêndios selvagens, como aquele que, na Austrália, tinha dizimado oito mil coalas e outros cento e quarenta milhões de animais. Cento e quarenta milhões! Não havia outra maneira.

(págs. 10 e 11)

Recomendo muito a leitura deste livro!

Boas leituras!

14
Ago24

As Guerras Meridionais da Água

O grupo paramilitar Os Grifos teve origem nas Guerras Meridionais da Água. Estas guerras abarcaram toda a bacia mediterrânica e tiveram, por sua vez, origem em diversos factores. Os historiadores, politólogos e sociólogos não estiveram – e ainda não estão – de acordo quanto aos factores que levaram, sem margem para dúvida, ao eclodir da guerra. No entanto, há alguns fatores aceites por quase todos os especialistas da área, e que são amiúde mencionados na literatura especializada: a carência de água que se fazia sentir há anos na bacia mediterrânica; a escassez de alimentos que resultara da quebra acentuada na produção agrícola, devido à falta de água e de agentes polinizadores; a pressão demográfica da África subsariana, onde à instabilidade política e social se havia também juntado a crescente falta de recursos hídricos e alimentares; a instabilidade política dos países mediterrânicos, tanto europeus, quanto africanos e levantinos; a pobreza e a revolta social causadas pela pandemia do designado rex-virus 3; o crescente avanço da extrema-direita em todos os países, com o apoio de destabilizadores russos; o abandono de antigas ligações culturais e alianças político-militares em resultado do fim da hegemonia norte-americana e europeia e de estabelecimento de uma nova centralidade económico-militar localizada no Extremo Oriente e no Pacífico.

em “Cadernos da Água” de João Reis, págs. 148 e 149

12
Ago24

Cadernos da Água

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(imagem retirada daqui)

Escrever ajuda-me a passar o tempo. Foi um dos amigos da Mariana que me deu uma caneta. Não sei onde a arranjou, não fala português nem nenhuma língua que eu entenda. Não sei como a Mariana se entende com os novos amigos, todos eles estrangeiros, poucos falam algum inglês e nenhum fala português.

(pág. 10)

Na Europa e no resto do mundo existe uma nova organização geopolítica. Uma seca extrema assola o sul da Europa. Sucederam-se as Guerras Meridionais da Água, novas pandemias na Europa, no Médio Oriente, no Norte de África. Os países do Norte fecharam as fronteiras e cancelaram o apoio financeiro, conhecido como a “taxa de deserto”, aos países do Sul. O mundo está em transformação e o Sul da Europa transformou-se num deserto.

Sara e Mariana, mãe e filha, são refugiadas climáticas na Suécia. Sara regista o dia-a-dia num caderno, numa espécie de correspondência para o seu marido Emanuel, enquanto aguardam pelo reencontro da família. Este ficou para trás, algures na Península Ibérica sequestrado por um grupo de paramilitares. O seu país de origem, Portugal, já não existe.

Este é livro muito interessante sobre um futuro distópico, em que os antecedentes narrados ao longo da história e que conduzem ao momento em que lemos o caderno de Sara, têm muitas semelhanças com o presente. Um exemplo é a invasão da Ucrânia pela Rússia, referenciada no livro como tendo ocorrido em 2026, e que se concretizou alguns dias antes da publicação do livro, em março de 2022.

A água, enquanto recurso fundamental, e a sua gestão é um tema pelo qual tenho muito interesse e preocupação. O futuro poderá não ser assim tão diferente do descrito neste livro. As alterações climáticas e a escassez da água são temas que na minha opinião, enquanto país, não estamos preparados para enfrentar, nem vamos estar a curto e a médio prazo. Isto preocupa-me e muito, quando penso no futuro próximo e das próximas gerações.

Um livro marcante, com diferentes camadas, em que diferentes leitores poderão valorizar mais um tema do que outro, mas para mim é um alerta importante para o futuro.

O Ministro dos Recursos Hídricos admitira que a sua pasta já pouco sentido fazia, pois na verdade já quase não havia recursos hídricos. Com as reservas no mínimo absoluto ou totalmente esgotadas, apenas pequenas bolsas no noroeste do país tinham ainda água suficiente para cobrir o consumo humano e algum consumo agrícola. 

(pág. 230)

Recomendo muito, mesmo muito a leitura deste livro!

Boas leituras!

11
Ago24

Vou-me embora

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(imagem retirada daqui)

Fiz, vinte anos aqui, casei por baixo da tília, de cabelo apanhado num rabo-decavalo.

Fiz, trinta anos aqui, e estive de barriga quatro vezes. Três bebés que cresceram, quase sem darmos por isso. E o outro, o bebé que não sobreviveu, está sepultado um pouco mais longe. Não pusemos flores no seu túmulo.

Fiz, quarenta anos aqui, um mundo para comandar com mão firme, sempre com um sorriso. E depois anos doces, o riso do meu homem, a sua calvície e as suas mãos atrevidas.

Fiz, cinquenta anos aqui, sem temer o amanhã.

Fiz, sessenta anos aqui, festejados num dia de tempestade, e setenta anos, o andar mais lento, sempre de mãos dadas com ele.

Fiz, oitenta anos aqui, o Henri desaparecera alguns meses antes e os filhos diziam-me “vira a página”.

Desde então, avanço quase caindo a cada passo, porque cada passo me afasta ainda mais dele.

Nada mais terei aqui, nenhuma festa, nenhuma queda, nenhuma noite de amor. Não voltarei a abrir as portadas pela fresca da manhã. Não voltarei a sentar-me, com um copo na mão, para contemplar o sol a pôr-se.

Vou-me embora.

Em “O Mergulho” de Séverine Vidal; Ilustração: Víctor L. Pinel, pág. 12

10
Ago24

O Mergulho

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(imagem retirada daqui)

O tema do mês de julho da Comunidade de Leitura foi banda desenhada. Este não é um género de livros que leia com frequência, mas desde que estou na Comunidade de Leitura tenho lido livros muito interessantes.

Um desses livros é “O Mergulho”. Um livro lindíssimo, com ilustrações magníficas. Uma história sobre a fase final da vida, que obriga a pensar sobre o envelhecimento e como poderá ser o futuro de cada um de nós.

Yyonne tem 80 anos, é viúva, continua lúcida e independente. No entanto, chegou a hora de abandonar a sua casa, onde viveu praticamente a vida toda, para ir para uma residência para idosos. Num contexto completamente diferente, com novas pessoas e rotinas, será Yyonne capaz de adaptar-se a esta nova realidade?

Este é um livro em que é impossível ficar indiferente e em que nas primeiras páginas já sentia o coração apertado e os olhos muito brilhantes.

“Vês, Martial, é tudo isso que queremos.

A fragilidade do amor e dos beijos.

Talvez reviver tudo, ouvir ainda as vozes amadas. Não teremos nada disso e sabemo-lo. Por isso, dá-nos algumas horas de liberdade, escolhe o lugar, nós tratamos do resto. Água, talvez. Um pontão. Sim, é isso, queremos um pontão, lodo para enterrarmos os pés, erva, e sol para nos secar. Tens isso, Martial?

Tens isso para nós?”

(pág. 74)

Recomendo muito, mesmo muito a leitura deste livro!

Boas leituras!

09
Ago24

Amor?!

Amor.

Se é que se poderia chamar amor àquele distúrbio, que incluía violência física, manipulação, dependência e subjugação. Um sentimento doença, debilitante e terminal.

O coração da minha mãe traiu-nos, via-se no modo como o olhava enquanto ele lhe descascava uma peça de fruta e como reagia quando ele lhe acariciava os ombros. Nunca me apercebera daquela reação antes, talvez porque quando eles passaram fases boas eu estava demasiado absorvida nos meus dilemas de adolescente, e, depois, os problemas financeiros chegaram e não havia carícias, só gritos, destempero e violência.

em "O Som em Mim" de Iris Bravo, págs 218 e 219

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Um animal selvagem
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O Último Comboio para Key West
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O Meu Nome é Lucy Barton
O Som em Mim
O Peso do Pássaro Morto
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Augusta B. ou as Jovens Instruídas 80 Anos Depois
Memórias de uma falsificadora : a luta na clandestinidade pela liberdade em Portugal
Uma Espia Americana em Lisboa
Admirável Mundo Verde
A Minha Família e Outros Animais
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Cadernos da Água


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