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A wonderful day

A wonderful day

18
Ago24

Três hipóteses

- Temos três hipóteses possíveis – explica-me o Max, quando percebe que eu continuo com muitas dúvidas em relação ao plano. – A primeira é aceitar esta nova ordem e viver resignadamente num país totalitário, mas em profunda regeneração ambiental, na esperança de que, dentro de pouco tempo seja permitido formar novos partidos políticos e disputar eleições livres. A História mostra-nos que tal nunca acontece. O mais provável é que as Brigadas ganhem as eleições, vendo-se mais legitimadas pelo voto popular. A segunda hipótese é fugir daqui sem salvar mais ninguém, vivendo com o peso na consciência de não ter feito nada, cúmplices com o nosso silêncio. A terceira é fugir daqui, mas levando connosco a Laura, que será a prova de que este é um regime repressivo, que diariamente atropela os direitos dos seus cidadãos.

em “Admirável Mundo Verde” de Filipa Fonseca Silva, pág. 144

16
Ago24

Admirável Mundo Verde

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(imagem retirada daqui)

Três jovens universitários. Uma causa comum: sensibilizar e contribuir para um planeta mais sustentável. Laura, Billie e Max são mais do que família uns dos outros, estão interligados de forma muito profunda. No entanto, um deles radicaliza-se em prol de um mundo mais verde. Esta radicalização terá impactos significativos nas suas vidas.

Em nome de uma mudança que permita a adoção de medidas ambientais efetivas, inicia-se uma revolução armada que termina na implementação de um estado totalitário e com milhares de mortos. O país é dominado pelas Brigadas Verdes e tudo é controlado, desde o papel, à utilização da eletricidade até ao número de filhos. Qual o destino de Laura, Billie e Max durante e após a revolução?

As questões ambientais interessam-me muito (defeito profissional) e quando vi este livro pela primeira vez, percebi logo que o iria ler, assim que possível.

“Admirável Mundo Verde” levanta inúmeras questões. Será uma distopia? Poderá acontecer em breve? Valerá tudo em nome de um mundo mais sustentável, incluindo atos de violência e controlo total da população?

Este livro é um alerta sobre a emergência climática, sobre a necessidade de mudança, mas também sobre os elevados riscos associados aos estados totalitários. No entanto, onde existem guerras e ditaduras, existe sempre quem resista, quem procure um caminho alternativo e este é também um livro sobre a resistência e o poder da amizade.

Foi uma leitura que prendeu a minha atenção desde início, sendo que a história nos envolve e lê-se rapidamente. A curiosidade sobre o desfecho era enorme e gostei imenso do final.

Decidira que chegava de desculpas e adiamentos, acordos e conferências onde os intervenientes falavam e falavam, mas não levavam a cabo as mudanças concretas e necessárias para a salvação de milhões de vidas. Chegava de petições, marchas, invasões de conselhos de ministros, vandalização de obras de arte, greves de fome e cadeados em fábricas. Decidira ficar com o grupo contra a hipocrisia de quem se dizia preocupado com o assunto, mas não se desviava um milímetro de um estilo de vida consumista e suicida, mesmo perante as notícias diárias de secas históricas, furacões descontrolados e incêndios selvagens, como aquele que, na Austrália, tinha dizimado oito mil coalas e outros cento e quarenta milhões de animais. Cento e quarenta milhões! Não havia outra maneira.

(págs. 10 e 11)

Recomendo muito a leitura deste livro!

Boas leituras!

14
Ago24

As Guerras Meridionais da Água

O grupo paramilitar Os Grifos teve origem nas Guerras Meridionais da Água. Estas guerras abarcaram toda a bacia mediterrânica e tiveram, por sua vez, origem em diversos factores. Os historiadores, politólogos e sociólogos não estiveram – e ainda não estão – de acordo quanto aos factores que levaram, sem margem para dúvida, ao eclodir da guerra. No entanto, há alguns fatores aceites por quase todos os especialistas da área, e que são amiúde mencionados na literatura especializada: a carência de água que se fazia sentir há anos na bacia mediterrânica; a escassez de alimentos que resultara da quebra acentuada na produção agrícola, devido à falta de água e de agentes polinizadores; a pressão demográfica da África subsariana, onde à instabilidade política e social se havia também juntado a crescente falta de recursos hídricos e alimentares; a instabilidade política dos países mediterrânicos, tanto europeus, quanto africanos e levantinos; a pobreza e a revolta social causadas pela pandemia do designado rex-virus 3; o crescente avanço da extrema-direita em todos os países, com o apoio de destabilizadores russos; o abandono de antigas ligações culturais e alianças político-militares em resultado do fim da hegemonia norte-americana e europeia e de estabelecimento de uma nova centralidade económico-militar localizada no Extremo Oriente e no Pacífico.

em “Cadernos da Água” de João Reis, págs. 148 e 149

12
Ago24

Cadernos da Água

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(imagem retirada daqui)

Escrever ajuda-me a passar o tempo. Foi um dos amigos da Mariana que me deu uma caneta. Não sei onde a arranjou, não fala português nem nenhuma língua que eu entenda. Não sei como a Mariana se entende com os novos amigos, todos eles estrangeiros, poucos falam algum inglês e nenhum fala português.

(pág. 10)

Na Europa e no resto do mundo existe uma nova organização geopolítica. Uma seca extrema assola o sul da Europa. Sucederam-se as Guerras Meridionais da Água, novas pandemias na Europa, no Médio Oriente, no Norte de África. Os países do Norte fecharam as fronteiras e cancelaram o apoio financeiro, conhecido como a “taxa de deserto”, aos países do Sul. O mundo está em transformação e o Sul da Europa transformou-se num deserto.

Sara e Mariana, mãe e filha, são refugiadas climáticas na Suécia. Sara regista o dia-a-dia num caderno, numa espécie de correspondência para o seu marido Emanuel, enquanto aguardam pelo reencontro da família. Este ficou para trás, algures na Península Ibérica sequestrado por um grupo de paramilitares. O seu país de origem, Portugal, já não existe.

Este é livro muito interessante sobre um futuro distópico, em que os antecedentes narrados ao longo da história e que conduzem ao momento em que lemos o caderno de Sara, têm muitas semelhanças com o presente. Um exemplo é a invasão da Ucrânia pela Rússia, referenciada no livro como tendo ocorrido em 2026, e que se concretizou alguns dias antes da publicação do livro, em março de 2022.

A água, enquanto recurso fundamental, e a sua gestão é um tema pelo qual tenho muito interesse e preocupação. O futuro poderá não ser assim tão diferente do descrito neste livro. As alterações climáticas e a escassez da água são temas que na minha opinião, enquanto país, não estamos preparados para enfrentar, nem vamos estar a curto e a médio prazo. Isto preocupa-me e muito, quando penso no futuro próximo e das próximas gerações.

Um livro marcante, com diferentes camadas, em que diferentes leitores poderão valorizar mais um tema do que outro, mas para mim é um alerta importante para o futuro.

O Ministro dos Recursos Hídricos admitira que a sua pasta já pouco sentido fazia, pois na verdade já quase não havia recursos hídricos. Com as reservas no mínimo absoluto ou totalmente esgotadas, apenas pequenas bolsas no noroeste do país tinham ainda água suficiente para cobrir o consumo humano e algum consumo agrícola. 

(pág. 230)

Recomendo muito, mesmo muito a leitura deste livro!

Boas leituras!

11
Ago24

Vou-me embora

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(imagem retirada daqui)

Fiz, vinte anos aqui, casei por baixo da tília, de cabelo apanhado num rabo-decavalo.

Fiz, trinta anos aqui, e estive de barriga quatro vezes. Três bebés que cresceram, quase sem darmos por isso. E o outro, o bebé que não sobreviveu, está sepultado um pouco mais longe. Não pusemos flores no seu túmulo.

Fiz, quarenta anos aqui, um mundo para comandar com mão firme, sempre com um sorriso. E depois anos doces, o riso do meu homem, a sua calvície e as suas mãos atrevidas.

Fiz, cinquenta anos aqui, sem temer o amanhã.

Fiz, sessenta anos aqui, festejados num dia de tempestade, e setenta anos, o andar mais lento, sempre de mãos dadas com ele.

Fiz, oitenta anos aqui, o Henri desaparecera alguns meses antes e os filhos diziam-me “vira a página”.

Desde então, avanço quase caindo a cada passo, porque cada passo me afasta ainda mais dele.

Nada mais terei aqui, nenhuma festa, nenhuma queda, nenhuma noite de amor. Não voltarei a abrir as portadas pela fresca da manhã. Não voltarei a sentar-me, com um copo na mão, para contemplar o sol a pôr-se.

Vou-me embora.

Em “O Mergulho” de Séverine Vidal; Ilustração: Víctor L. Pinel, pág. 12

10
Ago24

O Mergulho

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(imagem retirada daqui)

O tema do mês de julho da Comunidade de Leitura foi banda desenhada. Este não é um género de livros que leia com frequência, mas desde que estou na Comunidade de Leitura tenho lido livros muito interessantes.

Um desses livros é “O Mergulho”. Um livro lindíssimo, com ilustrações magníficas. Uma história sobre a fase final da vida, que obriga a pensar sobre o envelhecimento e como poderá ser o futuro de cada um de nós.

Yyonne tem 80 anos, é viúva, continua lúcida e independente. No entanto, chegou a hora de abandonar a sua casa, onde viveu praticamente a vida toda, para ir para uma residência para idosos. Num contexto completamente diferente, com novas pessoas e rotinas, será Yyonne capaz de adaptar-se a esta nova realidade?

Este é um livro em que é impossível ficar indiferente e em que nas primeiras páginas já sentia o coração apertado e os olhos muito brilhantes.

“Vês, Martial, é tudo isso que queremos.

A fragilidade do amor e dos beijos.

Talvez reviver tudo, ouvir ainda as vozes amadas. Não teremos nada disso e sabemo-lo. Por isso, dá-nos algumas horas de liberdade, escolhe o lugar, nós tratamos do resto. Água, talvez. Um pontão. Sim, é isso, queremos um pontão, lodo para enterrarmos os pés, erva, e sol para nos secar. Tens isso, Martial?

Tens isso para nós?”

(pág. 74)

Recomendo muito, mesmo muito a leitura deste livro!

Boas leituras!

09
Ago24

Amor?!

Amor.

Se é que se poderia chamar amor àquele distúrbio, que incluía violência física, manipulação, dependência e subjugação. Um sentimento doença, debilitante e terminal.

O coração da minha mãe traiu-nos, via-se no modo como o olhava enquanto ele lhe descascava uma peça de fruta e como reagia quando ele lhe acariciava os ombros. Nunca me apercebera daquela reação antes, talvez porque quando eles passaram fases boas eu estava demasiado absorvida nos meus dilemas de adolescente, e, depois, os problemas financeiros chegaram e não havia carícias, só gritos, destempero e violência.

em "O Som em Mim" de Iris Bravo, págs 218 e 219

06
Ago24

O Som em Mim

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(imagem retirada daqui)

Francisca, Teresa e Mariana são fugitivas. Abandonam uma vida aparentemente perfeita, familiares, amigos e rumam a Lisboa. Francisca assume a responsabilidade pela sobrevivência da família e a sua maior preocupação é manter Teresa e Mariana longe de uma vida de violência e agressões.

Francisca é determinada, corajosa e, apesar dos acontecimentos traumáticos do passado - alguns recentes - nada a demove de manter a sua família em segurança. Adora música e cantar. A sua voz e os lugares para onde esta a transporta são vitais para que Francisca mantenha os seus objetivos e a sua luz interior.

Quando Francisca começa a atuar no Clube Álibi, parece que a sua vida ganha um novo rumo, mas o passado continua por resolver e infiltra-se como uma doença.

"O Som em Mim" é uma história de coragem, amor, resiliência e superação, repleto de mulheres incríveis.No entanto, é também um retrato da nossa sociedade, em que a violência sobre as mulheres continua entranhada e o caminho a percorrer para que esta realidade se altere é muito longo.

Este é o quarto livro que leio da Iris Bravo e só iniciei a leitura quando tive a certeza que podia ler sem interrupções e embrenhar-me na história. "O Som em Mim" não fugiu à regra e li-o em menos de 24 horas. Iris Bravo voltou a surpreender, a criar um enredo que agarra o leitor e com personagens que ficam connosco.

Agora já estou à espera do novo romance da Iris Bravo e sei que o vou comprar e ler sem hesitações.

“Os sons que eu criava levavam-me para outro tempo e lugar. Permitiam-me atravessar dimensões e desfrutar de outro mundo, impalpável, sonoro, no qual me podia esconder por horas. Ansiava por aquele momento, por fugir da clausura da minha dimensão, através das notas, dos decibéis e dos olhares atentos de quem me ouvia. Era vital, aditivo e viciante.”

Pág. 27

Recomendo muito a leitura deste livro! Uma última palavra para capa que é muito bonita e para a banda sonora disponível no Spotify e que podemos ouvir, enquanto lemos o livro.

Boas leituras!

PS. Obrigada equipa do Sapo pelo destaque que deram ao meu último post. Foi uma boa surpresa.

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Admirável Mundo Verde
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Cadernos da Água


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