Gosto de manhãs cinzentas no verão.

Gosto quando o dia amanhece fresco e cinzento, como se fosse um intervalo no verão quente e luminoso.

São manhãs que convidam ao silêncio, à reflexão e se tiver tempo à leitura de um bom livro.

Não Consigo.

tentei segurar

as lágrimas que caíam na minha mão em

concha,

eram tantas,

será que com o uso

um dia a lágrima acaba?, e a vida

pode ser longa e eu não queria

virar

uma menina sem lágrima no meio do caminho

uma mulher.

coloquei minha água na boca, foi salgando a

língua ao invés da mão.

minha mãe

sentou tímida ao meu lado.

sempre gostei dela fazendo carinho no meu cabelo

    mas hoje estava esquisito, no dia que eu

    descobri o que é Morrer.

em "O Peso do Pássaro Morto" de Aline Bei, pág. 31

(imagem retirada daqui)

Este livro foi uma sugestão de vários elementos da Comunidade de Leitura, com referências muito boas e que despertaram a minha curiosidade.

O livro tem uma escrita dura, direta e ao mesmo tempo poética. É uma escrita que primeiro se estranha e depois se entranha. Um livro em que não é possível parar de ler até ao fim e em que acompanhamos a vida da personagem principal desde a infância até à vida adulta.

Perda de pessoas próximas, luto, procura de afirmação junto dos seus pares, um acontecimento que transforma vidas.

Uma vida sem amor, sem carinho, na incerteza de ter tomado a decisão certa. Outras formas de encontrar o amor e a alegria de viver, que tocaram no meu íntimo.

Um livro com o texto muito bonito e simultaneamente muito marcante. Um livro que quero ler novamente, de forma pausada para poder saborear a escrita de Aline Bei.

“entendendo que o tempo

sempre leva

as nossas coisas preferidas do mundo

e nos esquece aqui

olhando pra vida

Sem elas.

em casa eu disse pro Vento

- chegamos."

Boas leituras!

Contrabandidas dos Livros é um novo podcast sobre livros, divertido e com sugestões muito interessantes.

O primeiro episódio foi para o ar no dia 3 de junho e através desse episódio é possível conhecer as suas autoras.

A Dina e a Sara são amigas, duas amigas minhas e membros da Comunidade de Leitura a que pertenço. São duas leitoras ávidas, com interesses distintos e com opiniões, por vezes fora da caixa, mas muito pertinentes.

Todas as segundas-feiras ao final do dia saí um episódio. O último tinha como tema "Leituras de Verão".

Neste momento, tenho um ritual novo à segunda-feira à noite: ouvir o podcast, dar umas boas gargalhadas, ouvir atentamente as Contrabandidas e ficar muito orgulhosa com este projeto das minhas amigas.

Fica a sugestão de um novo podcast sobre livros, leituras, com boa disposição à mistura.

Boa semana e hoje é dia de episódio novo!

Contrabandidas dos Livros

O meu pai fazia-me sentir segura, não havia mal que não curasse. Talvez seja essa a definição mais lata de amor paterno, materno. Uma criança amada é uma criança que se sente protegida e invulnerável.

em "O meu pai voava" de Tânia Ganho, pág. 160

(Imagem retirada daqui)

Um livro de memórias em que Tânia Ganho partilha com o leitor as memórias do seu pai e as vivências da sua família. Um livro sobre doença, morte, luto, mas também sobre a vida e as relações familiares.

O primeiro livro que li sobre o luto de uma pessoa próxima, desde que o meu pai partiu. 

Um registo pessoal e íntimo que recomendo vivamente.

  "A minha mãe escolheu a fotografia mais bonita que guardava dele para colocar, emoldurada, aos pés do caixão. Quando as pessoas entravam na salinha da capela, era assim que o viam: já com sessenta e poucos anos, e aquele seu brilho travesso nos olhos.

   Eram dourados, os olhos do meu pai.

   O caixão permaneceu fechado no velório.

   Quisemos que o recordassem como era, esfuziante.” (pág. 37)

Boas leituras!

A névoa cobria pouco a pouco os seus olhos e avançava lentamente. Os dias cinzentos eram ainda mais cinzentos. Os dias azuis, brilhantes, aqueles dias em que a esperança renasce eram apenas dias claros, com uma névoa ténue, em que tinha de intuir que estava um dia luminoso. A névoa teria de avançar mais um pouco, sem data definida. Era muito arriscado antecipar qualquer intervenção.

A névoa cobria pouco a pouco os seus olhos, entranhava-se lentamente em si, tornando os dias iguais, sem grandes expectativas, com um adiar de sonhos até ao dia em que essa desaparecesse.

Onde estava a força de outros dias, a vontade de fazer diferente e melhor? Seria a névoa a desculpa perfeita para que algo mais profundo e escondido no seu interior ganhasse forma e espaço dentro de si? Não sabia responder! Contemplava o dia cinzento, mas sabia que teria de encontrar soluções. Algures dentro de si, algo teria de renascer, o mundo teria de ganhar novas cores, mesmo que coberto de uma ligeira névoa.

Hoje faz 4 anos que criei este projeto e sinto-me num impasse sobre este blog. Lembro-
-me dele com frequência, mas este é um projeto que não tem sido devidamente acarinhado por mim, em que estou ausente durante muitos meses.

Quando olho para os posts criados ao longo destes anos, a maior parte deles são sobre as minhas leituras, mas criei o blog com um objetivo mais abrangente que partilhar a minha opinião sobre livros.

Muitas vezes, construo textos na minha mente, tiro notas no telemóvel e em cadernos. Alguns estão praticamente prontos para serem publicados, mas por razões diversas, não partilho esses textos. 

Depois de ter criado o blog, criei uma página no Instagram (IG) sobre as minhas leituras e acho que essa página desviou a minha atenção deste projeto. Não sou muito assídua a publicar no IG, apesar de ter mais publicações nessa plataforma do que posts neste blog.

A conta do IG foi e é importante para mim, porque permite uma interação diferente e foi através dessa conta que entrei na minha querida Comunidade de Leitura. No entanto, acho que estar atenta à conta, acaba por consumir muito do meu tempo livre, o qual é precioso, porque é escasso.

As publicações do IG tendem a ser diferentes das publicações dos blogs e muitas vezes sinto falta dos textos mais completos que posso ler nos blogs que sigo. Neste momento, sinto-me cansada do IG e talvez seja a altura de voltar a dedicar-me ao blog.

Enquanto, escrevo este texto, o qual comecei de forma muito hesitante, sinto que talvez este seja mesmo o espaço mais adequado para mim e que devo continuar com este projeto.

Hoje fico por aqui! Carpe diem!