E se Eu Morrer Amanhã?
(imagem retirada daqui)
Luísa acorda a meio na noite, sobressaltada. A sua cunhada telefonou a avisar que a mãe de Luísa – Helena - está no hospital, porque ocorreu um incêndio no seu apartamento. Aparentemente terá pegado fogo à sala, em agosto! Luísa teme o pior, será que a mãe está a ficar demente? Este é o princípio de um romance que prendeu a minha atenção desde o início e com o qual ri imenso.
Maria Helena tem 79 anos, é viúva, vive sozinha com o seu gato e aparenta ter uma vida muito pacata. Nasceu nos anos 30, num país repleto de preconceitos, em que uma mulher não podia ter expectativas de ter uma carreira e uma vida independente. Quando fica viúva, pouco a pouco descobre uma vida nova, repleta de atividades e novos amigos. Helena tem 79 anos e um segredo: tem uma vida sexual ativa.
A história está escrita de uma forma muito apelativa, em que existe uma alternância entre o narrador e os comentários de Helena, que nos fazem dar umas boas gargalhadas.
Um livro importante sobre um tema pouco falado e envolto em preconceitos: a sexualidade das pessoas mais velhas.
Helena é uma personagem fora da caixa, cuja energia e vontade de viver nos agarra. E se eu morrer amanhã é a pergunta que norteia a sua vida, em que procura aproveitar ao máximo os dias bons que ainda tem ao seu dispor. Não deveria ser esta a pergunta que deveríamos fazer todos os dias?
Foi o primeiro livro que li da Filipa Fonseca Silva, gostei imenso e só tenho pena de não ter lido antes este romance. Já tenho “O Elevador” em lista de espera e estou muito curiosa com o novo livro “Admirável Mundo Verde”.
“Não por ter perdido um grande amor, que não posso dizer que que ele o tenha sido, mas por ter perdido alguém com quem vivi um período maravilhoso de descoberta e intimidade. Alguém que me ensinou a apreciar o meu corpo, com todas as rugas e peles penduradas, com todos os estalidos de ossos e dores matinais. Costumávamos chamar-lhe a Sinfonia em Dó Maior, porque é realmente de meter o maior dó a quantidade de estalidos que um esqueleto velho consegue dar antes de conseguir erguer-se. Porém, quando estávamos na cama, mesmo ouvindo essa sinfonia, esquecíamos-nos da nossa idade e vivíamos no tal universo paralelo com que eu fantasiara durante tantos anos, os nossos corpos finalmente unidos pelo desejo. Em carne e osso." (pág. 84)
Boas leituras!