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A wonderful day

A wonderful day

30
Mai24

Ainda "A Cicatriz"

Resolvi voltar a escrever sobre o livro “A Cicatriz” de Maria Francisca da Gama. Li o livro no início de maio. Quando terminei a leitura sentia-me sem fôlego e recomendei a sua leitura.

Agora quase um mês depois, sinto que devo escrever novamente sobre este livro. Este já foi lido por diferentes leitoras da Comunidade de Leitura, a que pertenço, e as opiniões são muito diferentes umas das outras.

Algumas das leitoras consideram que este é um livro perigoso e que não deve ser recomendado a qualquer pessoa. Tenho refletido muito sobre este assunto. A história tem um “acontecimento” principal, o qual, na minha opinião, pretende ser o foco principal do livro e foi sobre este que incidiu a minha leitura. No entanto, o final, para mim inesperado, é igualmente impactante e é este, na minha opinião, que pode tornar este livro perigoso.  

Pensei várias vezes se deveria ou não escrever este segundo post sobre o mesmo livro. Antes de continuar gostaria de referir que leio por prazer, porque em determinados dias (e são cada vez mais) a leitura é um refúgio e, na maior parte das vezes, quando leio não estou à procura de um sentido subjacente ao livro ou de mais uma camada da história para analisar. Talvez seja defeito da minha formação profissional.

A partilha de leituras e de opiniões sobre os livros é muito importante, porque permite ver uma história pelos olhos de outros leitores e acrescentar ou não, algo à nossa experiência de leitura.

Nesse sentido, “A Cicatriz” está a gerar muitas opiniões diferentes na Comunidade de Leitura e revejo-me em muitas delas, pelo que resolvi escrever novamente sobre este livro e partilhar a opinião de um dos membros da Comunidade. O post tem spoilers sobre o livro, mas considero que este é importante e partilho aqui o link: https://livrosesaltos.com/2024/05/28/a-cicatriz-maria-francisca-gama/

"A Cicatriz" é um livro que gostei de ler, mas que não irei recomendar, como recomendo outros livros.

PS. Não vou apagar o post que escrevi previamente, mas vou atualizá-lo depois de terminar este texto.

 

 

30
Mai24

Flores nascidas do chão

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"Eu adoro as flores nascidas do chão

mesmo onde não há mais nada para além de alcatrão

A força das flores é tão imensa

que crescem mesmo na calçada, desde que viradas ao sol

E assim também se fazem as flores que trago para casa,

com teimosia e

exactidão,

Fico a olhá-las

porque têm muitas cores,

São desenhos complicados como os desamores

Complicadas que são,

não deixarão de existir;

Mesmo no mais árido chão

faz sentido florir."

em "As estradas são para ir" de Márcia (pág. 28)

Estou a ler o livro "As estradas são para ir" da Márcia. A leitura está a ser lenta para poder saborear a escrita e as ilustruções. Um livro muito bonito que vale a pena ter por perto, abrir, ler umas palavras e continuar. O texto acima transcrito não tem título, mas como tinha de colocar um título no post este pareceu-me adequado.

 

14
Mai24

Cinquenta e Oito Segundos

“Importava-lhe pouco que aquele fosse o retrato musical do violoncelista, o mais provável é que as alegadas parecenças, tanto as efectivas como as imaginadas, as tivesse ele fabricado na sua cabeça, o que à morte impressionava era ter-lhe parecido ouvir naqueles cinquenta e oito segundos de música uma transposição rítmica e melódica de toda e qualquer vida humana, corrente ou extraordinária, pela sua trágica brevidade, pela sua intensidade desesperada, e também por causa daquele acorde final que era como um ponto de suspensão deixado no ar, no vago, em qualquer parte, como se, irremediavelmente, alguma cousa tivesse ficado por dizer.”

Em “As Intermitências da Morte”, pág. 177 (edição de 2005 da Editorial Caminho)

13
Mai24

As Intermitências da Morte

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Fiz as pazes com a escrita de Saramago.

Durante a adolescência e o início da vida adulta li alguns livros de José Saramago, e apesar de não me recordar bem das histórias, tenho presente que são livros que marcaram o meu percurso enquanto leitora: “A Jangada de Pedra”, “Levantado do Chão” e “Memorial do Convento”. No entanto, pouco a pouco, abandonei a leitura de José Saramago e não tinha vontade de retomar.

Recentemente, com as partilhas dos clubes de leitura a que pertenço, foi crescendo em mim a vontade de voltar a ler José Saramago. A oportunidade surgiu com a leitura conjunta do livro “As intermitências da Morte”.

No dia seguinte ninguém morreu.” e assim começa um livro, escrito de forma magnífica, sobre a ausência da morte num determinado país, sobre o impacto de ninguém morrer, quer a nível pessoal, quer na sociedade. Um livro que obriga a refletir, com um retrato da sociedade acutilante e muito atual. São inúmeras as perguntas e reflexões que surgem ao longo da leitura deste livro, especialmente se for uma leitura partilhada.

Um livro que recomendo e que se lê facilmente. Da minha parte, em breve, voltarei a ler Saramago.

Quando a morte, por sua conta e risco, decidiu suspender a sua actividade a partir do dia um de janeiro deste ano, não lhe passou pela oca cabeça a ideia de que uma instância superior da hierarquia poderia pedir-lhe contas do bizarro despautério, como igualmente não pensou na altíssima probabilidade de que a sua pinturesca invenção das cartas de cor violeta fosse vista com maus olhos pela referida instância ou outra mais acima.

São estes os perigos do automatismo das práticas, da rotina embaladora, da práxis cansada. Uma pessoa, ou a morte, para o caso tanto faz, vai cumprindo escrupulosamente o seu trabalho, um dia atrás de outro dia, sem problemas, sem dúvidas, pondo toda a sua atenção em seguir pautas superiormente estabelecidas, e se, ao cabo de um tempo, ninguém lhe aparece a meter o nariz na maneira como desempenha as suas obrigações , é certo e sabido que essa pessoa, e assim sucedeu também à morte, acabará por comportar-se, sem que de tal se aperceba, como se fosse rainha e senhora do que faz, e não só isso, também de quando e de como o deve fazer.”

Em “As Intermitências da Morte”, págs. 168 e 169 (edição de 2005 da Editorial Caminho)

Boas leituras!

10
Mai24

Lenços pretos, chapéus de palha e brincos de ouro

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(imagem retirada daqui)

“E assim vai dando o contexto de imagens de mulheres que nunca andam de mãos vazias. Carregam cestos. Levam fardos ou cântaros à cabeça. Empurram carroças. Levantam pesos com as mãos nuas. Pegam em filhos. As filhas já pegam em irmãos.” (pág. 38)

Um livro pequeno, mas grande em conteúdo. Ao longo das suas páginas é possível acompanhar as reflexões da autora sobre o percurso de Maria Lamas (1947 a 1949), enquanto percorria Portugal para fotografar e registar as mulheres do seu país, projeto que daria origem ao livro “As Mulheres do Meu País”. Este foi originalmente publicado em fascículos entre 1948 e 1950.

No entanto, este livro é também uma reflexão da autora sobre o seu próprio percurso, enquanto procura reconstruir os passos de Maria Lamas para o filme de Marta Pessoa – “Um Nome para o Que Sou”.

O livro de Susana Moreira Marques é, igualmente, uma reflexão sobre as suas vivências, a sua avó, sobre as mulheres de Portugal no século XXI e as diferenças existentes entre as duas épocas, especialmente após a revolução de 1974.

Um livro em que cada frase nos impele a parar, refletir e só depois continuar a leitura.

Escolhi ler este livro na semana em que se celebraram os 50 anos do 25 de Abril, em que se celebrou e se celebra a Liberdade e um tempo novo para um país, após uma ditadura que durou 48 anos. Fiz coincidir a leitura do livro com a visita à exposição “As Mulheres do meu País” patente na Biblioteca de Arte Gulbenkian, o que tornou quer a leitura, quer a visita à exposição, mais enriquecedoras.

Depois da publicação, as Mulheres do Meu País não recebe demasiada atenção. Ninguém parece dar-se conta de que não é um livro apenas de carácter sociológico e etnográfico, de que nem sequer é uma simples reportagem, mas uma crítica direta a um país e a um regime que insistia que as mulheres do povo estavam contentes com aquilo que tinham. Elas – com os seus trajes indistinguíveis dos das suas vizinhas, com as fardas de trabalho gastas, com o ouro que exibem nas ocasiões especiais – são as principais fazedoras da identidade de um país em que se tinha orgulho por se ser pobre mas honrado; sofredor mas estóico; prática e simples mas imbuído da capacidade grandiosa para criar mitologias". (pág. 109)

Recomendo muito a leitura deste livro!

Boas leituras!

 

 

09
Mai24

A Cicatriz

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(imagem retirada daqui)

Que livro! Agarrada desde a primeira página até ao último ponto final.

Ela, Ele, o início da vida adulta, uma vida normal, uma viagem maravilhosa, a dois,  ao Rio de Janeiro. Virar à esquerda ou à direita numa rua? Um impacto profundo e intransponível para o resto da vida.

Um livro duro, muito duro, em que li a segunda parte com a respiração suspensa. No fim a pergunta, a angústia, e se fosse comigo ou com alguém próximo de mim?

Maria Francisca Gama está de parabéns por este livro e pela sua escrita.

"O amor sempre me fez sonhar e ele foi arquiteto de muitos desses sonhos: com ele ao comando, fosse esse sonho passado num barco ou num avião, os projetos pareciam sempre que se podiam concretizar. Ele dava cor e estrutura a tudo, por mais irrealista que me parecesse à primeira vista. Eu era a que mandava a ideia para o ar; ele fazia com que ela continuasse a planar em mim, como o meu pai, quando eu era pequena, tratava que o nosso papagaio na praia não caísse na cabeça de ninguém, por menos vento que houvesse.

Tive sorte com quase todos os homens que se cruzaram na minha vida." (pág. 45)

Recomendo muito a leitura deste livro!

*******************

Após uma troca intensa de opiniões sobre este livro com algumas leitoras, de quem respeito muito a opinião, fiz uma atualização sobre esta leitura e considerei que deveria atualizar este post. O link é: https://awonderfulday.blogs.sapo.pt/ainda-a-cicatriz-32004

 

 

 

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