Voltar a ver as cores!
"Ele vira-se para mim com um sorriso sereno.
- Quando foi a última vez que viste o pôr do sol, Salama? Como deve ser?
Franzo a testa.
- Não me lembro.
- Com toda a destruição que acontece lá em baixo, é fácil esquecer a beleza que permanece aqui em cima. O céu é tão bonito depois da chuva... (...)
- Perguntaste-me se conseguirias voltar a ver as cores, Salama. Se merecemos vê-las - diz o Kenan baixinho. - Acho que merecemos. E acho que tu consegues. Há muito pouca cor na morte. Na dor. Mas isso não é a única coisa do mundo. A Síria não tem apenas isso. O nosso país foi em tempos o centro do mundo. Invenções e descobertas foram feitas aqui, que construíram o mundo. A nossa História está no palácio Al-Zahrawi, nas nossas mesquitas, no nosso solo. (...)
- Vês as cores, Salama? - sussura o Kenan.
O pôr do sol é magnífico, mas empalidece na presença dele. O brilho do final do dia envolve-o totalmente, um caleidoscópio de tons a dançar-lhe no rosto. Cor-de-rosa, laranja, amarelo, púrpura, vermelho, acabando por se fixar num azul-celeste. Lembra-me a pintura da Layla. Uma cor tão forte, que me tingiria os dedos se lhe tocasse."
em Onde Crescem os Limoeiros de Zoulfa Katouh, págs. 181-183