(imagem retirada daqui)
Yasmina Khadra é um autor que descobri no âmbito do desafio do passaporte literário que estou a fazer durante 2023. Depois de ler “A Última Noite de um Tirano” fiquei com curiosidade de ler mais livros deste autor. Numa ida à biblioteca requisitei “As Andorinhas de Cabul” e o livro foi muito além do que esperava depois de ler a sinopse.
Um livro repleto de desespero, numa cidade em que a liberdade e os direitos humanos foram reduzidos a pó. Cabul é uma cidade em que o fundamentalismo religioso domina e os seus habitantes sobrevivem na miséria. As execuções públicas "alimentam" o povo e as mulheres não tem qualquer valor, numa sociedade dominada pelos talibãs.
A história decorre no período em que os talibãs dominam o Afeganistão após a ocupação soviética. Através da escrita de Yasmina Khadra acompanhamos a vida de dois homens e duas mulheres, numa sociedade que não reconhecem, em que as mulheres perderam a liberdade e estão reduzidas ao papel de servirem os homens.
Um pequeno romance que obriga a parar, a respirar fundo e refletir sobre o que faria se vivesse no mesmo contexto das personagens.
Como viver numa sociedade aberta, moderna e de repente perder todas as liberdades, incluindo algo tão simples como ligar o rádio e ouvir música?
Se perdermos a nossa liberdade e os valores humanistas em que acreditamos, será que enlouquecemos lentamente, será que procuramos forma de sobreviver no meio de loucura coletiva ou esta acaba por nos destruir?
Um livro complexo, em que muitas vezes tive de pensar que a história estava a decorrer no final do século XX e não na Idade Média. Infelizmente, a História repete-se e este é um livro muito atual.
Mais um livro que me deixou sem palavras e Yasmina Khadra é um autor que quero continuar a ler.
“Com excepção do da esposa, há anos que Atiq não vê um só rosto de mulher. Aprendeu mesmo a viver sem isso. Para ele, tirando Mussarat, não há senão fantasmas, sem voz nem encantos, que atravessam as ruas sem assombrarem os espíritos; nuvens de andorinhas em estado de decrepitude, azuis ou amarelentas, normalmente descoloridas, várias estações atrasadas, emitindo um som melancólico, quando passam perto dos homens.” (pág. 122)
Boas leituras!