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“- Sufrágio – disse-lhe.
- É uma palavra importante.
Sorri.
- São todas importantes, Mr. Sweatman.
- Claro que sim, mas algumas têm um significado maior do que nós imaginamos – retorquiu. - Às vezes tenho medo de que o Dicionário fique aquém do esperado.
- E seria assim tão terrível? – Esqueci-me de que estava com pressa. – As palavras são como histórias, não acha, Mr. Sweatman? Mudam à medida que vão passando de boca em boca; os seus significados crescem ou encolhem-se para se adequarem ao que tem que ser dito. É impossível o Dicionário captar todas as variações, principalmente porque muitas delas nunca foram escritas… - Parei, subitamente envergonhada.”
in O Dicionário das Palavras Perdidas, de Pip Williams, p.150
"- Mas não o amo. E não quero casar-me.
Ela ficou ligeiramente tensa, e senti-a encher o peito de ar. Depois, puxou uma cadeira para junto da minha e sentou-se à minha frente, com as mãos dadas às minhas.
- Todas as mulheres querem casar-se, Essymay.
- Se isso é verdade, então porque é que a Dittie não é casada, nem a irmã dela? Ou a Elsie, a Rosfrith ou a Eleanor Bradley? E tu, porque é que não és casada?
- Nem todas as mulheres têm essa oportunidade. E algumas...algumas são criadas com demasiados livros e demasiadas ideias e não conseguem assentar.
- Acho que eu não conseguiria assentar, Lizzie.
- Acabavas por te habituar.
- Mas eu não quero habituar-me.
- Então, queres o quê?
- Quero que as coisas fiquem como estão. Quero continuar a selecionar palavras e a compreender o que elas significam. Quero tornar-me melhor a fazer isso e que me deem mais responsabilidades e quero continuar a ganhar o meu dinheiro. Tenho a sensação de que só agora comecei a perceber quem sou. Ser mulher ou mãe não é para mim. - Saiu tudo de rajada e acabou comigo a soluçar."
in o Dicionário das Palavras Perdidas, de Pip Williams, p. 190
(imagem retirada daqui)
Uma amiga desafiou-me para participar na leitura partilhada dos Capitães da Areia, de Jorge Amado. Apesar de ter lido o livro há muito tempo aceitei participar. Quando leio determinados livros sinto falta de ter alguém com quem discutir o livro, partilhar opiniões e achei que o desafio poderia ser interessante.
Capitães da Areia é sobre um grupo de crianças órfãs, abandonadas, entre os 8 e os 16 anos, que vivem nas ruas da Bahia, nos anos 30, e que praticam pequenos crimes para poderem sobreviver.
O livro tem uma leitura fluida, mas é de uma enorme sensibilidade e profundidade. É um livro intenso com personagens marcantes: o Sem-Pernas; o Professor; o padre José Pedro; o Pedro Bala…e a menina estrela.
É um livro que nos faz refletir sobre os conceitos do bem e do mal, do certo e do errado e em como essa fronteira é muitas vezes ténue e depende muito das circunstâncias em que estamos inseridos. No entanto, na luta diária pela subsistência, sobressaem valores como a lealdade, o espírito de sacrifício para garantir a segurança e a sobrevivência do grupo, mesmo que implique suportar a tortura ou partir para um destino, em que a morte é quase certa.
Escrever sobre a história destes meninos homens é difícil. O livro é sobre crianças obrigadas a crescer rapidamente, numa total ausência de afeto e uma vida familiar estruturada, mas que continuam a ser crianças e só precisam de alguém que cuide delas com amor e carinho.
Fico muito contente de ter aceitado o desafio da leitura partilhada e foi muito bom reler esta história.
Vale a pena viajar até à Bahia dos anos 30, pela mão do Jorge Amado e conhecermos os Capitães da Areia.
Boas leituras!
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